Sistematização do planejamento de pesquisa via OKRs: do sprint inicial à aprovação ética em 3 etapas
Aldemar Araujo Castro
Criação: 14/12/2025
Atualização: 15/12/2025
Palavras: 1266
Tempo de leitura: 6 minutos
Resumo
O texto propõe o uso da metodologia Objectives and Key Results (OKR) para estruturar o Ciclo 1 do planejamento científico, visando combater a desorganização e a procrastinação acadêmica. A abordagem divide o processo em três fases estratégicas: um Sprint Inicial intensivo para ideação e revisão bibliográfica; uma etapa de construção escalonada de um mês para os instrumentos de coleta e documentos éticos; e a fase final de trâmite burocrático na Plataforma Brasil. O modelo atua como controle de qualidade preventivo, transformando o aluno em gestor ativo e garantindo a robustez metodológica necessária para a aprovação ética e o sucesso da pesquisa.
1. Introdução
A iniciação científica e a pós-graduação stricto sensu representam, para muitos acadêmicos, o primeiro contato formal com a produção de conhecimento estruturado. No entanto, observa-se no cenário educacional contemporâneo, especialmente na área da saúde, um descompasso entre a exigência de produção intelectual e a capacitação para o gerenciamento de projetos. A formação acadêmica tradicional tende a privilegiar o domínio conteudista e as normas técnicas de redação em detrimento da competência gerencial necessária para conduzir uma investigação do início ao fim.
Essa lacuna na formação resulta, frequentemente, em dilação de prazos, elevadas taxas de abandono e ansiedade discente. O aluno, muitas vezes, compreende como fazer uma análise estatística ou como formatar uma citação, mas carece de clareza sobre quando executar cada etapa e como encadear logicamente os processos para evitar retrabalho. A “liberdade” inerente à pesquisa, quando desprovida de marcos temporais claros, torna-se um fator paralisante.
Neste contexto, propõe-se a aplicação da metodologia Objectives and Key Results (OKR) para segmentar a jornada do pesquisador. O presente texto dedica-se a analisar o Ciclo 1: Planejamento, etapa fundante que visa transformar uma intenção de pesquisa abstrata em um projeto exequível e eticamente aprovado. Diferente da execução, que demanda esforço braçal e longitudinal, o planejamento exige esforço intelectual concentrado e estratégico. Ele constitui o alicerce sobre o qual toda a coleta de dados se sustentará, funcionando como um filtro de viabilidade que separa ideias apenas interessantes de projetos cientificamente robustos.
2. O Ciclo 1: Planejar a Pesquisa
O Ciclo 1: Planejamento foi desenhado para operacionalizar o objetivo estratégico de construir um projeto de pesquisa de alta qualidade e eticamente aprovado. Para tal, a jornada é segmentada em três fases cronológicas distintas: o Sprint Inicial, a fase de Construção e a fase de Burocracia.
2.1. O Sprint Inicial (Dia 1): Ideação e Estado da Arte
A fase inaugural rompe a inércia do pesquisador através de um dia de imersão intensiva, dividido em dois marcos de quatro horas cada.
O primeiro marco (KR 1: Ideação & Plano) foca na definição dos alicerces lógicos do estudo: a pergunta de pesquisa, o objetivo, a hipótese e o título. Seguido por um elemento central e distintivo desta etapa é a elaboração do resumo estruturado do projeto de pesquisa. Diferente de um resumo convencional, este documento deve ser composto rigorosamente por 15 parágrafos pré-determinados que sintetizam toda a lógica do estudo, servindo como o “esqueleto” narrativo que guiará a escrita futura e garantirá a coerência interna do projeto de pesquisa.
O segundo marco (KR 2: Revisão) exige a tabulação de 20 artigos na Matriz de Síntese. Esta atividade, também limitada a quatro horas, impede a leitura passiva e força o pesquisador a extrair dados sistemáticos para embasar a justificativa científica. E serve de início da revisão da literatura.
2.2. A Construção dos Instrumentos (Mês 1)
Após a validação da ideia, inicia-se a etapa de “engenharia” da pesquisa (KR 3), que possui duração de quatro semanas e segue uma ordem lógica de dependência:
- Semana 1 (KR3.1: Dados): Prioriza-se a definição do que será medido através da criação da: (1) Tabela de Dados Individuais que serão coletados e do (2) esboço das variáveis (definição, quem, como, onde).
- Semana 2 (KR3.2: Coleta): Com as variáveis definidas, elabora-se: (1) Formulário de Coleta de Dados, (2) Etapas da Pesquisa e o Cronograma.
- Semana 3 (KR3.3: Ética): Baseando-se no formulário, redigem-se os documentos de proteção ao participante, especificamente: (1) Análise de Riscos e Benefícios e (2) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
- Semana 4 (KR3.4: Formalização): Conclui-se com a obtenção das autorizações institucionais ou promessa de autorização e a revisão dos anexos.
Imediatamente após a finalização dos instrumentos, o pesquisador dedica uma semana para a redação completa do Projeto de Pesquisa (KR 4: Projeto), consolidando os documentos produzidos anteriormente.
2.3. A Burocracia Ética (Meses 2 e 3)
A fase final do Ciclo 1 (KR 5: Aprovação) é dedicada ao trâmite legal. O indicador de sucesso não é apenas a submissão, mas a obtenção do parecer de aprovação na Plataforma Brasil sem pendências documentais. Estima-se um prazo de até três meses para esta etapa, considerando os tempos de análise dos comitês de ética, culminando na transição para o Ciclo 2: Executar.
2.4. Indicadores de Desempenho (KPIs) e Monitoramento de Qualidade
Enquanto os OKRs funcionam como marcos de entrega binários (fez/não fez), a gestão eficaz do Ciclo 1 exige o acompanhamento de Key Performance Indicators (KPIs) para mensurar a eficiência do pesquisador e a fluidez do processo de orientação. Propõe-se a adoção de três indicadores métricos principais:
- Índice de Aderência ao Cronograma (IAC): Mede a diferença, em dias, entre a data planejada e a data real de entrega de cada KR. Um IAC positivo indica antecipação, enquanto um IAC negativo sinaliza atraso e risco ao projeto, permitindo intervenções precoces do orientador.
- Taxa de Retrabalho (TR): Quantifica o número de devoluções (versões) de um mesmo documento (ex: Projeto de Pesquisa ou TCLE) antes da validação final. Uma TR elevada sugere deficiência na compreensão das instruções ou baixa dedicação na fase de escrita, demandando revisão dos métodos de estudo do discente.
- Completude da Matriz (CM): Avalia a qualidade da revisão bibliográfica (KR 2). Calcula-se pela porcentagem de campos essenciais preenchidos corretamente na Matriz de Síntese. Uma completude inferior a 90% indica uma leitura superficial dos artigos base, comprometendo a fundamentação teórica.
A combinação dos marcos de entrega com estes indicadores de saúde cria um sistema de “dupla checagem“, garantindo que o projeto não apenas seja entregue no prazo, mas possua o rigor técnico necessário para aprovação.
3. Considerações Finais
A implementação do Ciclo 1: Planejamento, estruturado sob a ótica dos OKRs e dividido em sprints e entregas escalonadas, transcende a mera organização de tarefas. Ela atua como um mecanismo de “controle de qualidade” preventivo do estudo científico. Ao impor prazos curtos para a ideação e um cronograma rígido para a instrumentação, o sistema força o pesquisador a enfrentar e resolver as dificuldades metodológicas no papel, antes que o custo do erro se torne proibitivo no campo ou na bancada.
A aderência a este cronograma não apenas assegura a tempestividade da aprovação ética, mas também promove uma mudança de paradigma comportamental no discente. O aluno deixa de ser um agente passivo que aguarda inspiração para tornar-se um gestor ativo de seu processo de descoberta. A estratégia do “Sprint Inicial” com o resumo de 15 parágrafos, por exemplo, combate eficazmente o perfeccionismo paralisante, demonstrando que a clareza de pensamento precede a complexidade textual.
Conclui-se, portanto, que um Ciclo 1 rigorosamente executado é o maior preditor de sucesso nas fases subsequentes. Ele mitiga os riscos de viés de coleta no Ciclo 2 e fornece a base argumentativa sólida necessária para o Ciclo 3. Em última análise, este modelo não ensina apenas a pesquisar, mas a entregar resultados com consistência, qualidade e respeito aos prazos, competências essenciais tanto para a vida acadêmica quanto para a prática profissional de excelência.
Recursos extras
- A visão geral e clássica das etapas da pesquisa podem se encontrados em: https://usinadepesquisa.com/fiatlux
- O uso de recursos com inteligência artificial para este Ciclo 1 (Pesquisar) podem ser encontrado em: https://jornadadopesquisador.org e https://aldemararaujo.github.io/ebook
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