COMO ESCREVER: A introdução de uma pesquisa original


Criação: 23/12/1999
Atualização: 14/08/2025
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A introdução é a porta de entrada para o seu artigo científico. É nela que o leitor entende por que a pesquisa foi realizada, o que se pretendia descobrir e qual foi a meta declarada do estudo. Uma boa introdução é breve, direta e organizada.

Sua estrutura pode seguir três partes essenciais:

1. Contexto

Comece situando o leitor no cenário do problema: apresente dados, referências ou fatos que mostrem a relevância do tema. A cada frase, vá estreitando o foco até chegar à lacuna de conhecimento que motivou o estudo. Finalize esta parte com a pergunta de pesquisa, formulada de forma clara e objetiva.

Exemplo:

A insuficiência venosa crônica é uma das principais causas de dor e edema em membros inferiores, afetando milhões de pessoas no mundo. Embora existam diversas opções terapêuticas, ainda há dúvidas sobre a eficácia comparativa das meias de compressão graduada em diferentes estágios da doença. Assim, é relevante responder a pergunta de pesquisa: qual a diferença de frequência de dor e edema em pacientes com insuficiência venosa crônica classe CEAP 3 que utilizam meias elásticas de compressão diariamente comparado aos pacientes com classe CEAP 5?

2. Hipótese

Declare o que você espera encontrar como resposta à pergunta e explique, em poucas linhas, a justificativa para essa expectativa. Essa é a ligação lógica entre o conhecimento atual e a proposta de investigação.

Exemplo:

A diferença de frequência de dor e edema em pacientes com insuficiência venosa crônica classe CEAP 3 que utilizam meias elásticas de compressão diariamente comparado aos pacientes com classe CEAP 5 é de 40%. A hipótese baseia-se na efetividade reconhecida da terapia compressiva e na progressão natural da doença venosa crônica. As meias de compressão são amplamente recomendadas nas diretrizes internacionais como tratamento de primeira linha para controle de sintomas nas fases iniciais da doença, reduzindo significativamente tanto o edema quanto a dor (Gloviczki et al., 2011). Estudos demonstram que essa intervenção pode reduzir em até 50% a intensidade dos sintomas, especialmente quando utilizada de forma contínua e correta (Rabe et al., 2010; Partsch et al., 2008). Por outro lado, pacientes com CEAP 5 representam estágios mais avançados da doença, marcados por histórico de úlcera venosa cicatrizada, o que indica maior dano estrutural e inflamatório no sistema venoso. Assim, a diferença estimada de 40% é coerente com a evidência clínica disponível e reflete tanto o efeito protetor do uso precoce da compressão quanto o impacto da evolução da doença em pacientes não tratados adequadamente nas fases iniciais.

3. Objetivo

Finalize informando de forma direta o objetivo principal da pesquisa. Evite justificativas ou explicações extras — aqui o foco é a clareza.

Exemplo:

Determinar a diferença de frequência de dor e edema em pacientes com insuficiência venosa crônica classe CEAP 3 que utilizam meias elásticas de compressão diariamente comparado aos pacientes com classe CEAP 5.

Resumo da fórmula:

  1. Contexto: Apresente o cenário e termine com a pergunta de pesquisa.
  2. Hipótese: Apresente qual é a hipótese e explique o que espera encontrar e por quê.
  3. Objetivo: Declare o objetivo de forma direta.

Incluir objetivos secundários na introdução de um artigo original é um erro metodológico que compromete a clareza e o foco do estudo. O objetivo deve ser único, direto e totalmente alinhado à pergunta de pesquisa, permitindo um delineamento mais preciso, um cálculo de amostra adequado e uma análise estatística coerente. A presença de múltiplos objetivos nessa seção pode desviar a atenção do leitor e enfraquecer a estrutura lógica do trabalho. Por isso, é fundamental manter a simplicidade e a objetividade, evitando ambiguidades na redação do artigo original.

Uma introdução bem construída desperta o interesse do leitor e cria a ponte lógica que conecta sua pesquisa ao restante do artigo.