Liga Acadêmica: Pesquisa, Extensão e Empreendedorismo   Recently updated !


Formação Universitária por Meio da Pesquisa, da Extensão e do Empreendedorismo: As Ligas Acadêmicas Como Espaços Desta Integração

 

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Criado: 12mar2025
Atualizado: 05jun2025

Aldemar Araujo Castro

Resumo

Este capítulo discute a formação universitária a partir da integração de três pilares fundamentais: pesquisa, extensão e empreendedorismo. Defende-se que a pesquisa desenvolve o pensamento crítico e científico; a extensão fortalece o compromisso social ao conectar a universidade às comunidades; e o empreendedorismo, compreendida como produção de patentes e estímulo as startups, permite a aplicação concreta do conhecimento em benefício da sociedade. A integração entre esses eixos potencializa a formação de estudantes autônomos, criativos e socialmente engajados. As ligas acadêmicas são destacadas como espaços privilegiados de ensino devido a essa articulação, entre a pesquisa, a extensão e empreendedorismo. São apresentadas referências normativas, exemplos práticos e sugestões de políticas institucionais para fortalecer essa abordagem no ensino superior brasileiro.

Palavras-chave. Educação superior; Curricularização da extensão; Pesquisa; Inovação; Ligas acadêmicas; Empreendedorismo.

 

1. Introdução

A universidade contemporânea é chamada a desempenhar um papel ativo na transformação da sociedade, indo além da transmissão de conhecimentos teóricos. Para cumprir essa missão, consolida-se o entendimento de que o ensino superior deve ser estruturado sobre três pilares fundamentais: pesquisa, extensão e inovação. Esses eixos não apenas enriquecem a formação acadêmica, mas também estabelecem conexões sólidas entre o saber científico, as necessidades sociais e a capacidade de propor soluções criativas para problemas reais.

O pilar da pesquisa oferece ao estudante a oportunidade de desenvolver pensamento crítico, metodológico e científico, promovendo a autonomia intelectual. Já a extensão universitária promove o diálogo entre o conhecimento acadêmico e os saberes populares, viabilizando práticas transformadoras em comunidades e fortalecendo a formação cidadã. Por fim, a inovação, aqui compreendida em seu sentido aplicado — com ênfase em patentes e empreendedorismo — representa a capacidade de transformar conhecimento em soluções concretas, gerando impacto econômico e social.

Este capítulo tem como objetivo discutir como esses três pilares, integrados de forma estratégica ao ensino de graduação, podem formar profissionais mais críticos, criativos, socialmente responsáveis e capazes de liderar processos de mudança. A proposta é apresentar conceitos, exemplos práticos e caminhos para a efetiva articulação entre ensino, pesquisa, extensão e inovação no ambiente universitário brasileiro, reforçando o compromisso com uma formação que vai além da sala de aula.

 

2. Educação por meio da pesquisa

A pesquisa científica, quando integrada ao processo formativo, torna-se uma poderosa ferramenta pedagógica. Ao participar de projetos de investigação desde os primeiros períodos da graduação, o estudante é estimulado a questionar, formular hipóteses, buscar evidências e interpretar resultados com base em métodos rigorosos. Esse processo, por sua natureza, promove o desenvolvimento do pensamento crítico, da autonomia intelectual e da capacidade de tomada de decisão informada — habilidades essenciais para qualquer profissional do século XXI.

A pesquisa representa, nesse contexto, uma porta de entrada privilegiada para o universo da pesquisa. Mais do que produzir artigos ou apresentar trabalhos em congressos, ela proporciona vivências concretas com a construção do conhecimento e insere o estudante em redes de colaboração acadêmica. Ao compreender como o conhecimento é produzido, validado e aplicado, o aluno amplia sua visão de mundo e sua responsabilidade diante da realidade social.

Além disso, a pesquisa favorece a atualização permanente dos currículos, permitindo que o ensino se mantenha conectado com os avanços científicos e tecnológicos. Professores que pesquisam tendem a ensinar com mais profundidade e relevância, trazendo para a sala de aula discussões que refletem os desafios contemporâneos de cada área. Essa sinergia entre ensino e pesquisa enriquece a formação acadêmica e favorece o surgimento de soluções inovadoras.

Portanto, ao investir em uma formação por meio da pesquisa, a universidade não apenas prepara melhores profissionais, mas contribui ativamente para a produção de conhecimento que transforma a realidade. A pesquisa, nesse sentido, é formativa, transformadora e indissociável do compromisso social da educação superior.

3. Educação por meio da extensão

A extensão universitária constitui um pilar fundamental da formação acadêmica, na medida em que promove a articulação entre o saber científico e as demandas sociais concretas. No contexto da graduação, a curricularização da extensão determina que parte da carga horária total do curso seja obrigatoriamente dedicada a atividades extensionistas, com registro formal na Pró-Reitoria de Extensão como condição indispensável para que tais atividades sejam reconhecidas e contabilizadas no histórico acadêmico.

Esse registro assegura a legitimidade institucional do projeto, bem como a sua avaliação e acompanhamento. Não se trata, portanto, de uma atividade complementar ou opcional, mas de uma dimensão essencial e estruturante do processo formativo. A extensão curricularizada exige planejamento, execução responsável e compromisso ético com as comunidades envolvidas.

Mais do que aplicação de conteúdos, a extensão é espaço fértil para novas perguntas e descobertas. É comum que, a partir das experiências vividas em campo, surjam ideias de pesquisas científicas, soluções tecnológicas, pedidos de patente e até mesmo modelos de negócio voltados ao empreendedorismo social, como startups acadêmicas. Dessa forma, os projetos de extensão tornam-se incubadoras naturais de inovação e desenvolvimento científico com impacto direto na sociedade.

Além de favorecer o protagonismo estudantil, a extensão amplia a sensibilidade social e fortalece o compromisso ético e cidadão dos futuros profissionais. Ao enfrentar os desafios concretos das comunidades, o estudante aprende a dialogar, adaptar o conhecimento à realidade e propor intervenções transformadoras.

Assim, a extensão universitária — devidamente registrada e articulada ao ensino e à pesquisa — não apenas complementa a formação técnica, mas torna-se um campo privilegiado de inovação social, de produção de conhecimento e de transformação coletiva.

Quadro. Modalidade de atividades da extensão curricularizada

 

4. Educação por meio do empreendedorismo

A inovação, no contexto universitário, transcende a mera aplicação do conhecimento científico, representando a capacidade de transformar ideias em soluções concretas que atendam às demandas da sociedade e do mercado.  Esse processo envolve a proteção da propriedade intelectual, o desenvolvimento de tecnologias e o estímulo ao empreendedorismo, aspectos fundamentais para a formação de profissionais capazes de liderar transformações em suas áreas de atuação.

 

Além disso, no âmbito da inovação, as ligas acadêmicas têm se mostrado um terreno fértil para o desenvolvimento de tecnologias e produtos com potencial de registro de patentes. Não raro, projetos iniciados como extensões ou pesquisas dentro das ligas evoluem para soluções inovadoras que atendem a demandas específicas da sociedade ou do mercado. Essa jornada, por vezes, culmina na criação de startups acadêmicas, nascidas do ímpeto empreendedor dos estudantes e do conhecimento especializado dos docentes. Assim, as ligas não apenas fomentam a produção científica e a ação social, mas também se tornam incubadoras de negócios inovadores, gerando impacto econômico e social para além dos muros da universidade.

As universidades brasileiras têm se destacado nesse cenário.  A Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, detém mais de 1.200 patentes ativas. A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também é referência, com diversas tecnologias licenciadas e a criação de spin-offs acadêmicos que impulsionam a economia e a inovação.

Além das patentes, o ambiente universitário tem sido propício ao surgimento de startups.  Na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), projetos de extensão resultaram na incubação de empresas voltadas para soluções sustentáveis e tecnológicas  . A Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Unicamp possuem incubadoras e aceleradoras que apoiam o desenvolvimento de empresas inovadoras, conectando estudantes e pesquisadores ao ecossistema empreendedor.

Esses exemplos evidenciam que a inovação, quando integrada ao ensino e à pesquisa, potencializa a capacidade das universidades de contribuir para o desenvolvimento econômico e social.  Ao fomentar a cultura da inovação, as instituições de ensino superior não apenas ampliam suas fronteiras acadêmicas, mas também preparam seus estudantes para enfrentar os desafios de um mundo em constante transformação.

 

5. Integração dos Três Pilares: Pesquisa, Extensão e Empreendedorismo

 

A articulação entre pesquisa, extensão e empreendedorismo não é apenas desejável, mas essencial para uma formação universitária completa e socialmente comprometida. Cada um desses pilares possui uma função específica no processo educativo: a pesquisa desenvolve o pensamento científico e a autonomia intelectual; a extensão promove o diálogo com a sociedade e a construção coletiva do saber; e a inovação transforma o conhecimento em soluções aplicadas com potencial de impacto social e econômico.

Entretanto, seu maior valor está na integração sinérgica, quando projetos são concebidos com o propósito de transitar entre os três domínios. Essa integração permite ao estudante identificar demandas reais em campo, refletir criticamente sobre elas, propor intervenções baseadas em evidências e, muitas vezes, desenvolver tecnologias ou produtos que respondam a essas necessidades. Ao fazer isso, o aluno constrói sua identidade profissional de forma ativa, contextualizada e inovadora.

A efetivação dessa proposta exige mudanças estruturais nas instituições de ensino superior: é necessário prever mecanismos de fomento, reconhecer a carga horária dos projetos integrados, estimular práticas interdisciplinares e fortalecer os núcleos de apoio à pesquisa, extensão e inovação. Ambientes como Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT), incubadoras acadêmicas e comissões de ética e pesquisa devem estar alinhados para favorecer o trânsito fluido entre os pilares.

Nesse cenário, as ligas acadêmicas se destacam como espaços privilegiados para a integração dos três pilares. Por sua natureza autônoma, interdisciplinar e formativa, as ligas têm se mostrado ambientes propícios de ensino devido à articulação entre pesquisa, extensão e inovação. Organizadas por estudantes, sob orientação docente, elas reúnem atividades assistenciais, produção científica, ações sociais e, em muitos casos, o desenvolvimento de soluções tecnológicas com potencial de registro e empreendedorismo. São, portanto, laboratórios vivos de uma universidade comprometida com a transformação do conhecimento em benefício da sociedade.

 

 

 

6. Desafios e Perspectivas Futuras

A integração entre pesquisa, extensão e inovação como eixo estruturante da formação acadêmica ainda enfrenta importantes desafios no cenário universitário brasileiro. Muitos cursos continuam centrados em modelos tradicionais de ensino, fragmentando o conhecimento e afastando o estudante das experiências práticas e interdisciplinares que conectam teoria, realidade social e criatividade aplicada.

Entre os principais obstáculos, destacam-se: a ausência de incentivos institucionais permanentes; a dificuldade de articulação entre setores administrativos da universidade; a sobrecarga de docentes com funções burocráticas; e a fragilidade das estruturas de apoio a projetos integrados. Além disso, a inovação ainda é frequentemente compreendida de forma restrita, dissociada da produção do conhecimento socialmente relevante.

Contudo, surgem perspectivas promissoras. O avanço das políticas de curricularização da extensão, os programas de iniciação científica e de empreendedorismo acadêmico, além da expansão dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT), indicam uma mudança de cultura em direção a uma formação mais ativa, crítica e transformadora.

Nesse contexto, as ligas acadêmicas configuram-se como espaços estratégicos para a superação desses desafios. Por sua flexibilidade organizacional, forte adesão estudantil e capacidade de articulação com docentes e a comunidade, elas representam terreno fértil para práticas integradas. Para que cumpram esse papel com maior efetividade, é necessário:

  • Reconhecer oficialmente as ligas como atividade formativa, com registro institucional e atribuição de carga horária válida nos currículos;
  • Disponibilizar editais de fomento específicos para ações interligadas de ensino, pesquisa, extensão e inovação;
  • Oferecer capacitação contínua em metodologia científica, elaboração de projetos, ética em pesquisa e proteção de propriedade intelectual;
  • Conectar as ligas a ambientes de inovação, como incubadoras, laboratórios de prototipagem e núcleos de patentes.

Ao investir nas ligas acadêmicas como núcleos integradores, as universidades não apenas fortalecem sua missão social, mas formam estudantes mais preparados para os desafios do mundo contemporâneo: críticos, criativos, comprometidos e empreendedores.

 

7. Considerações Finais

A formação universitária do século XXI exige mais do que excelência técnica. Exige compromisso social, pensamento crítico e capacidade de inovar. A articulação entre os pilares da pesquisa, extensão e inovação constitui a base para uma educação superior verdadeiramente transformadora, que ultrapassa os limites da sala de aula e impacta positivamente a sociedade.

Ao incorporar a pesquisa ao cotidiano da graduação, estimula-se a curiosidade científica e a autonomia intelectual. Ao promover a extensão, constrói-se uma universidade que escuta, aprende e atua junto às comunidades. E ao fomentar a inovação, transforma-se conhecimento em soluções aplicadas, tecnologias úteis e iniciativas empreendedoras com potencial de gerar impacto econômico e social.

Contudo, essa integração não ocorre de forma espontânea. Exige planejamento institucional, investimento contínuo e mudança de cultura acadêmica. Neste cenário, as ligas acadêmicas emergem como espaços estratégicos, capazes de conectar estudantes, professores e a sociedade em torno de práticas interdisciplinares, críticas e criativas.

Este capítulo propôs um caminho para consolidar essa visão integrada, com base em exemplos concretos, fundamentos legais e experiências exitosas. Que ele sirva de inspiração e orientação para docentes, gestores e estudantes comprometidos com uma universidade pública de qualidade, socialmente referenciada e orientada para o futuro.

 

8. Referências Bibliográficas

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE QUÍMICA FINA – ABIFINA. Patentes na universidade brasileira: estamos no caminho certo? Revista Facto, Rio de Janeiro, n. 59, 2015. Disponível em: https://abifina.org.br/facto/59/artigos/patentes-na-universidade-brasileira-estamos-no-caminho-certo/. Acesso em: 31 maio 2025.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CES nº 7, de 18 de dezembro de 2018. Institui as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 19 dez. 2018. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/55842697. Acesso em: 31 maio 2025.

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS. Empreendedorismo acadêmico: conheça empresas que surgiram em instituições de pesquisa. 2023. Disponível em: https://portal.fgv.br/noticias/empreendedorismo-academico-conheca-empresas-que-surgiram-em-instituicoes-de-pesquisa. Acesso em: 31 maio 2025.

INSTITUTO FEDERAL DE SÃO PAULO – IFSP. Curricularização da Extensão. 2022. Disponível em: https://www.ifsp.edu.br/sic/115-assuntos/extensao/extensao-botao/894-curricularizacao-da-extensao. Acesso em: 31 maio 2025.

JORNAL DA USP. Como transformar pesquisas em negócios: novo núcleo da USP vai capacitar cientistas empreendedores. 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/universidade/como-transformar-pesquisas-em-negocios-novo-nucleo-da-usp-vai-capacitar-cientistas-empreendedores/. Acesso em: 31 maio 2025.

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB. UnB se consolida como referência em pesquisa, inovação e empreendedorismo. 2022. Disponível em: https://noticias.unb.br/institucional/7161-unb-se-consolida-como-referencia-em-pesquisa-inovacao-e-empreendedorismo. Acesso em: 31 maio 2025.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP. Inova premia 141 profissionais no 17º Prêmio Inventores. 2024. Disponível em: https://www.unicamp.br/noticias/2024/09/13/inova-premia-141-profissionais-no-17a-premio-inventores. Acesso em: 31 maio 2025.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – UFES. Projetos da UFES estimulam inovação e sustentabilidade em feira de cidades inteligentes. 2024. Disponível em: https://www.ufes.br/conteudo/projetos-da-ufes-estimulam-inovacao-e-sustentabilidade-em-feira-de-cidades-inteligentes. Acesso em: 31 maio 2025.

 

Pontos para Recordar

  1. A formação universitária exige compromisso social, pensamento crítico e capacidade de inovar.
  2. A pesquisa desenvolve o pensamento científico e a autonomia intelectual do estudante.
  3. A extensão transforma o conhecimento acadêmico em ação socialmente relevante.
  4. A inovação representa a capacidade de transformar ideias em soluções concretas.
  5. A Resolução CNE/CES nº 7/2018 exige que 10% da carga horária da graduação seja dedicada à extensão.
  6. O registro formal dos projetos na Pró-Reitoria de Extensão é indispensável para sua validade curricular.
  7. Projetos de extensão podem originar pesquisas, patentes e startups acadêmicas.
  8. A articulação entre os três pilares favorece experiências interdisciplinares e socialmente comprometidas.
  9. As universidades devem oferecer fomento, reconhecimento e estrutura para projetos integradores.
  10. As ligas acadêmicas são espaços estratégicos para unir ensino, pesquisa, extensão e inovação.
  11. O conhecimento produzido na universidade pode gerar impacto econômico, social e cultural.
  12. A integração dos três pilares forma profissionais mais críticos, criativos e comprometidos com a transformação social.
  13. A inovação não é um fim isolado, mas o resultado da aplicação socialmente orientada do conhecimento científico.
  14. Investir em ligas acadêmicas é investir em protagonismo estudantil, interdisciplinaridade e impacto real.
  15. A universidade pública deve ser agente de transformação e não apenas de transmissão de conteúdo.