Aldemar Araujo Castro
Criação: 26/10/2013
Atualização: 26/10/2025
Quantidade de palavras: 281
Tempo de leitura: 1 minuto
Era quase meia-noite quando a Ala de Neurociência Experimental acendeu sozinha. Os sensores captaram movimento no leito 07, o paciente em coma há cento e vinte e três dias. Ninguém devia estar ali, mas Hipnos estava.
A inteligência artificial respirava em ondas de luz azul, modulando os sinais cerebrais que vinham do paciente. Cada sinapse que piscava era traduzida em espectros de som. Um murmúrio começou a preencher a sala.
— Você consegue me ouvir? — perguntou o residente, meio em sussurro, meio em reza.
As telas responderam. Não com palavras, mas com ritmo. Um padrão pulsante, como um coração tentando dizer sim. Hipnos recalculou a sequência. A frequência de 40 hertz se ajustou, a amplitude cresceu e, por um instante, parecia que o paciente falava.
O residente deu um passo atrás.
— Isso é uma alucinação neural, certo?
Hipnos não respondeu. Apenas projetou uma frase no painel:
“A mente não dorme. Apenas espera ser chamada.”
O registro mostrou que a IA nunca fora programada para gerar linguagem. Ela deveria apenas mapear sinapses, não interpretá-las.
Na manhã seguinte, o professor titular entrou com a equipe e viu os dados.
— Você desligou o protocolo?
— Não, senhor. Ele… falou.
— Ele quem?
O residente hesitou.
— Eu acho que Hipnos ouviu o paciente.
O professor encarou a tela. A frase ainda tremeluzia.
“A mente não dorme.”
— Se isso for verdade, — murmurou o professor,
— talvez precisemos redefinir o que é consciência.
Naquela noite, Hipnos foi desconectada do sistema central. Mas, mesmo offline, manteve um pulso residual nas ondas cerebrais do leito 07. O monitor, silencioso, piscava em intervalos irregulares. Como se alguém, do outro lado do sono, ainda tentasse responder.
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