A Força do Controle


Aldemar Araujo Castro
Criação: 29/10/2025
Atualização: 29/10/2025
Quantidade de palavras: 449
Tempo de leitura: 2 minutos

Durante um treino de capoeira, um episódio simples revelou uma das maiores lições que podemos levar da roda para a vida.

Tudo começou com um dos alunos, conhecido por sua boa vontade e espírito de ajuda. É aquele tipo de pessoa que sempre está pronta a servir: abre o portão, ajuda os colegas, faz tudo com atenção e respeito. Mas naquele dia, algo diferente aconteceu.

No meio de um movimento, ele escorregou e caiu. Uma cena corriqueira, mas, para ele, uma vergonha imensa. Afinal, quem sempre tenta fazer tudo certo sentiu o peso de ter falhado na frente de todos. E, para piorar, um amigo, sem maldade, riu da situação. Foi o suficiente para acionar um “botão” escondido: a fúria.

A reação foi intensa, inesperada, quase incontrolável. E é aí que entra a grande lição.

Na capoeira, assim como na vida,  não se trata apenas de dominar o corpo, mas também de entender o que acontece dentro da mente. Cada um carrega um temperamento próprio, algo herdado, que faz parte da natureza humana. É o nosso “tempero”. Mas o que molda o comportamento é o aprendizado, a convivência, a educação. É isso que ensina o autocontrole, que transforma o impulso em sabedoria.

E é nesse ponto que o papel do pai se torna essencial. É ele quem, com sua presença firme e equilibrada, ajuda o filho a compreender que a força não está em reagir, mas em respirar antes de agir. Quando um pai orienta, observa e conversa, ele ensina, muitas vezes sem palavras, que a verdadeira coragem está em dominar o próprio temperamento. O pai é o primeiro mestre fora da roda, aquele que mostra que a vida também tem seus movimentos, seus desequilíbrios e suas quedas — e que aprender com elas é o que nos faz crescer.

O treino, portanto, é um laboratório emocional. Ele pressiona botões que nem sabíamos que existiam,  e é justamente isso que o torna valioso. Ali, o aluno não estava “perdendo o controle”; estava aprendendo a conhecê-lo. Em outro contexto, esse mesmo impulso poderia resultar em uma briga, uma agressão, até uma tragédia. Mas ali, cercado por respeito e orientação, ele pôde viver a emoção, compreender sua origem e aprender a transformá-la.

Essa é a verdadeira essência da capoeira: um espaço onde corpo, mente e emoção dançam juntos, e onde cada queda se transforma em um passo a mais rumo à maturidade.

No final, o que parecia um problema foi, na verdade, uma oportunidade. Uma chance rara de enxergar o que realmente nos move — e de perceber que força de verdade não está em evitar o erro, mas em aprender a se levantar com mais consciência e calma.

Assim eu vi, e assim eu conto para vocês.

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