Aldemar Araujo Castro
Criação: 01/11/2025
Atualização: 01/11/2025
Palavras: 798
Tempo de leitura: 4 minutos
Resumo (100 caracteres)
Perguntas de overview usam PICO e apenas mudam a unidade de análise para revisões sistemáticas.
Resumo (100 palavras)
Overviews de revisões sistemáticas têm se tornado frequentes na literatura médica, pois sintetizam resultados de múltiplas revisões que, muitas vezes, apresentam conclusões diferentes. Para elaborar a pergunta de pesquisa de um overview, utiliza-se a mesma estratégia aplicada aos estudos primários e às revisões sistemáticas: a metodologia PICO. A única diferença é a unidade de análise. Nos estudos primários, analisam-se pacientes; nas revisões sistemáticas, os ensaios clínicos; e no overview, as próprias revisões sistemáticas. Definido o PICO, é possível formular a pergunta, a hipótese e os objetivos do estudo, podendo inclusive utilizar ferramentas de IA para acelerar esse processo.
Introdução
A produção científica em saúde cresce de forma exponencial. A cada ano, novos ensaios clínicos são publicados, seguidos por revisões sistemáticas que buscam sintetizar essas evidências. Contudo, quando surgem várias revisões tratando do mesmo tema, o pesquisador pode se sentir diante de um labirinto metodológico: qual delas representa melhor a realidade? Como escolher? Nesse cenário, surge uma ferramenta poderosa, elegante e cada vez mais frequente na literatura médica, o overview de revisões sistemáticas.
Mas antes de compreender como elaborar a pergunta de pesquisa de um overview, precisamos revisitar um princípio simples e indispensável: toda pergunta científica nasce estruturada. Nada é aleatório. E, para isso, utilizamos uma estratégia conhecida por qualquer pesquisador clínico, a metodologia PICO.
1. O Primeiro Andar: Estudos Primários
No estudo primário, nossa unidade de análise é o paciente. Trata-se do alicerce da construção científica. Se desejamos verificar se a bota de Unna com aloe vera cicatriza úlceras venosas com maior eficiência do que a bota tradicional, precisamos de um ensaio clínico randomizado. Nesse nível, o PICO se organiza de maneira clara:
- P – Pacientes com doença venosa crônica, CEAP C6;
- I – Intervenção: bota de Unna com aloe vera;
- C – Controle: bota de Unna tradicional;
- O – Outcome: tempo de cicatrização.
Até aqui, tudo familiar. Porém, a ciência não para no estudo isolado. Surge então o próximo andar.
2. O Segundo Andar: Revisões Sistemáticas
Quando há múltiplos ensaios respondendo à mesma pergunta, a revisão sistemática surge como síntese do conhecimento disponível. Nesse momento, a unidade de análise deixa de ser a pessoa e passa a ser o ensaio clínico. Ou seja, o PICO muda apenas no tipo de elemento analisado, o raciocínio permanece idêntico.
- P – Ensaios clínicos randomizados com pacientes CEAP C6;
- I – Intervenção: qualquer método comparado à bota de Unna;
- C – Controles que utilizaram bota de Unna tradicional;
- O – Desfecho: tempo de cicatrização.
Apesar da mudança estrutural, o princípio é o mesmo. O método científico permanece sólido, coerente e previsível.
3. O Terceiro Andar: O Overview
É neste ponto que a pergunta do aluno ganha forma: como elaborar a pergunta de pesquisa de um overview?
O overview é, em termos simples e precisos, uma revisão sistemática de revisões sistemáticas. Ele observa o topo da pirâmide. Analisa aquilo que já analisou os ensaios clínicos. Traz clareza quando múltiplas revisões discordam, competem ou se complementam. Portanto, sua unidade de análise agora são as revisões sistemáticas — e nada mais.
Assim, o PICO do overview torna-se:
- P – Revisões sistemáticas que incluíram ensaios clínicos com pacientes CEAP C6;
- I – Qualquer intervenção estudada nessas revisões;
- C – Bota de Unna, por ser o comparador de interesse;
- O – Tempo de cicatrização.
Veja como um princípio simples, quando bem aplicado, organiza todo o pensamento científico. A ideia não muda — apenas o nível de observação. O método é estável, replicável e elegante. É assim que a boa ciência se defende do improviso.
4. Um detalhe que muda tudo
Em cada transição de nível (primário → secundário → overview) o pesquisador só precisa ajustar uma variável: quem é a unidade de análise?
Esse é o segredo. E quem domina esse conceito jamais se perde no desenho metodológico.
5. A Inteligência Artificial como aliada
Ao compreender o PICO, o pesquisador pode combinar rigor científico com eficiência tecnológica. Um ChatGPT personalizado pode:
- formular a pergunta de pesquisa;
- gerar a hipótese;
- redigir o objetivo;
- apresentar o PICO estruturado.
O raciocínio humano guia. A IA acelera. Juntos, transformam horas de trabalho em minutos, sem sacrificar o método.
6. Considerações Finais
Construir uma pergunta científica não é tarefa burocrática. É o momento mais nobre da pesquisa. É o instante em que a curiosidade se encontra com o método. Por isso, elaborar a pergunta de um overview não exige novos segredos, apenas o domínio da lógica que já existe.
Quando o pesquisador entende o PICO, compreende o caminho. Quando reconhece a unidade de análise, encontra o destino.
E assim, a resposta ao aluno torna-se elegante:
“A pergunta de pesquisa de um overview é construída da mesma forma que qualquer outra: definindo claramente o PICO. A única diferença está na unidade de análise.”
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